Infelizmente, se um paciente com estrabismo perguntar sobre a probabilidade de ele precisar ser operado novamente, nos próximos 21 anos, a resposta é, provavelmente, muito maior do que 15,7%. Essa taxa no primeiro ano pós-cirurgia é de 7,7% em crianças e de 8,5% em adultos, segundo um estudo publicado no Canadian Journal of Ophthalmology.
Mas o retorno do desvio ou a necessidade de ajustes após a primeira cirurgia é uma situação esperada, de acordo com Dra. Marcela Barreira, oftalmopediatra especialista em estrabismo.
Quais as principais razões para possíveis necessidades de ajustes após a primeira cirurgia?
Dra. Marcia Barreira: A recorrência do desvio é uma condição comum na prática da oftalmologia. Há várias razões para isso acontecer. Quando o estrabismo é cirúrgico, o primeiro passo é medir o tamanho do desvio e avaliar quais músculos serão operados e quanto iremos fortalecer ou enfraquecer esses músculos.
Podemos pensar nesses músculos como se fossem as rédeas de um cavalo. Eles são responsáveis pelos movimentos dos olhos (para cima, para baixo e para os lados). A cirurgia vai reposicionar ou encurtar esses músculos para que trabalhem em sincronia.
Esses cálculos são feitos a partir de tabelas e predizem o resultado. Entretanto, alguns pacientes podem não responder a esses cálculos e apresentar recidivas do desvio.
Qual o melhor período para se fazer este ajuste?
A primeira condição que pode ocorrer após a cirurgia de estrabismo é a hipocorreção, ou seja, quando houve um déficit na correção do desvio. A incidência de corrigir menos do que deveria é de 22 a 59%. Em outros casos, ocorre o oposto, há uma hipercorreção do desvio.
Entretanto, alguns estudos mostram que a hipercorreção pós-operatória precoce pode minimizar a tendência de recorrência do estrabismo.
Como o músculo após a cirurgia tem um período de ajuste, é possível que o desvio se normalize em cerca de um ano, período considerado mais adequado para avaliar o resultado da correção.
A idade pode influenciar nesta necessidade de ajustes?
Outro fator envolvido na necessidade de uma nova cirurgia é a idade, cujo efeito pode ser significativo na taxa de recorrência. Mudanças grandes nos graus dos erros de refração, como a miopia, também estão relacionados à recidiva do estrabismo.
Quando operamos uma criança, por exemplo, é possível que devido ao crescimento do olho o desvio possa aparecer novamente. O tipo de tônus muscular também pode interferir, pois há pessoas que têm um músculo mais flácido, por exemplo.
Essa cirurgia é complicada?
A boa notícia é que a cirurgia de estrabismo é considerada de pequeno porte e segura. Portanto, mesmo que seja necessária uma nova correção, é possível fazê-la e ter o desvio corrigido. Inclusive, após uma reoperação é raro o estrabismo retornar.